24 de maio de 2012

O Pagador de Promessas faz 50 anos


 
Agora em maio fez 50 anos que o Pagador de Promessas, dirigido por Anselmo Duarte, ganhou a Palma de Ouro em Cannes.

O filme conta a história do lavrador baiano Zé do burro (Leonardo Villar). Seu burro estava muito doente e Zé é aconselhado a fazer uma promessa para Iansã num local de candombé. O burro sara. Então Zé se lembra que Iansã é Santa Bárbara, e decide pagar a promessa: carrega uma cruz “tão pesada quanto a de Cristo” até a igreja de Santa Bárbara na capital.

Cumprir a promessa significava levar a cruz até o interior da igreja da padroeira, mas o padre Olavo (Dionísio Azevedo) se recusa a acolher uma promessa feita “num local de feitiçaria” e proíbe Zé de entrar na igreja com a cruz. Mas para Zé Iansã e e Santa Bárbara são a mesma pessoa e não há por quê não entrar.

Praticamente toda a ação se dá nas escadarias que sobem da rua até igreja, ligando simbolicamente o lugar do povo ao lugar do poder. O povo vem da rua para subir a escadaria. Apenas o padre desce da igreja para a escadaria. O longo declive criado pela escadaria dá o forte sentido de desequilíbrio ao duelo e permite ao diretor jogar com os com planos à medida em que o conflito evolui. Os diálogos de Zé com o padre são visualmente atirados para cima ou para baixo marcando os volteios do combate.



Zé do burro era uma pessoa do povo presa ao dever individual da promessa. No embate com a doutrina da Igreja esta posição evolui: ele é levado a defender a sua maneira de interpretar a relação de um homem com a religião. Sem perceber claramente, faz do seu ato uma demanda que passará a ser de muitos.

Zé do Burro é aquele que, mesmo sem saber, arrisca a sua vida por um bem que, afinal, é reconhecido por muitos: querer interpretar autonomamente a relação do homem com a religião sem a condução por outros.

Zé é morto pela polícia. O final do filme mostra como o povo preserva o seu gesto e o faz evoluir: seu corpo é carregado sobre a cruz para dentro da igreja. É o corpo de um homem que se dizia católico, que jurou para Iansã, mas procurou Santa Bárbara. Ele é carregado por mães de santo e capoeiristas para dentro de uma igreja católica. Tudo se preserva, mas algo mudou.

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